Bancos comunitários de 70 bairros do Estado terão uma nova linha de crédito que permitirá emprestar valor maior para os moradores
Mikaella Camposmalmeida@redegazeta.com.brEstelamar Sofiate Damaceno, 44 anos, cria sozinha seus seis filhos e mais um neto com o pouco que ganha do Bolsa-Família. Desempregada há três anos, ela pensa em comprar um carrinho de pipoca para ter outra fonte de renda. O ponto de trabalho já foi escolhido: a creche que fica ao lado de sua casa.
Para realizar seu sonho, só falta o dinheiro. Com dificuldade para ser aceita pelos tradicionais bancos, a moradora do Morro São Benedito, em Vitória, será beneficiada por uma nova linha de microcrédito, o Creditar.
A taxa de juros será de 1% ao mês e o parcelamento em até 24 meses. E o melhor: não haverá burocracia. O financiamento produtivo será acessível, inclusive, para pessoas com restrições cadastrais.
A facilidade estará disponível a partir de agosto para 300 mil moradores de 70 bairros assistidos pelos bancos comunitários Bem, Terra, Verde Vida e Sol. Cada empreendedor poderá pegar no máximo R$ 1 mil para financiar o seu negócio.
As mulheres, beneficiárias do Bolsa-Família, como é caso de Estelamar, compõem o principal público-alvo do programa.
Além de gerar renda e oportunidades de trabalho nas comunidades, a finalidade do Creditar é permitir que muitas chefes de família saiam da informalidade e do desemprego.
O novo microcrédito é uma parceria do governo do Estado, Bandes, Banestes e Sebrae e será um impulso para os bancos comunitários que, sem recursos suficientes, têm passado por dificuldades.
Nesses bairros, a sede pelo empreendedorismo é tão grande que, mesmo sem o lançamento oficial do Creditar, existe fila de espera pelo empréstimo. Na Grande Terra Vermelha, em Vila Velha, 80 pessoas procuram o Banco Terra para iniciar a avaliação de crédito.
Em São Benedito, três moradores estão com o empréstimo pré-aprovado pelo Banco Bem e devem contar com recursos ainda nesta semana.
O Banco Verde Vida, em Aribiri, Vila Velha, iniciou a inscrição dos interessados. "Será nossa primeira linha de crédito", comemora o gestor da instituição João Manuel Ribeiro. Hoje, o banco funciona em sistema de troca. Famílias entregam materiais recicláveis e ganham a moeda verde para fazer compras no supermercado.
Em Vista Dourada, Cariacica, o Banco Sol, também se prepara para disponibilizar o dinheiro.
FinanciamentoPara que os financiamentos sejam liberados nas comunidades, o governo do Estado separou recursos de R$ 1 milhão. A expectativa é atender no mínimo mil pessoas até o próximo ano.
O empreendedor, ao procurar o banco de bairro, contará com apoio dos agentes de crédito na elaboração de um miniplano de negócios. A proposta será submetida a uma avaliação de um comitê formado por moradores. Se o crédito for aprovado, o Banestes vai concluir a operação, repassando o dinheiro direto ao empresário.
Se preferir, o empreendedor poderá receber a verba na moeda social que circula no seu bairro.
"Diferente dos outros créditos, o consumidor não precisará de garantia. Vamos chegar aonde nenhum outro microcrédito chega. E no futuro, o empreendedor que iniciou as suas atividades com o Creditar poderá ser beneficiado por empréstimos maiores, como Nossocrédito", explica o diretor de Crédito e Fomento do Bandes, Everaldo Colodetti.
Com dinheiro na mão, quem for financiado não será abandonado. O Sebrae ensinará o profissional a administrar o negócio. Serão oferecidas oficinas de capacitação com até quatro horas de duração, como gestão, fluxo de caixa, marketing, segundo a gerente de Acesso a Serviços Financeiros do Sebrae, Alline Zanoni.
Novos bancos
Com o Creditar, a experiência positiva dos bancos comunitários será levada para outros localidades do Estado. Até o final do ano, mais três instituições de economia solidária serão criadas.
As unidades ficarão em Domingos Martins, Nova Rosa da Penha (Cariacica) e região da Grande São Pedro (Vitória). Começam a ensaiar a criação de bancos sociais os bairros de Feu Rosa, na Serra, e Nova Betânia, em Viana.
O plano do governo é formar até 2014 uma rede com 20 bancos comunitários, incluindo o interior. O trabalho será feito em municípios pobres atendidos pelo Programa Incluir, recém-lançado pelo Estado.
"O Creditar é uma forma de apoiar os antigos e os novos bancos que estão para surgir. A cada empréstimo que fizer, as instituições ganharão uma comissão de até 4%. Além disso, vamos disponibilizar consultorias para que essas entidades sejam autossustentáveis", explica o presidente da Agência de Desenvolvimento em Rede (Aderes), Pedro Rigo.
A coordenadora do Banco Bem e gestora no Estado do projeto de expansão do crédito comunitário, Leonora Mol, afirma que será possível o crescimento. No entanto, é necessário mais investimento. Hoje, os quatros bancos existentes sobrevivem com uma verba do governo federal.
"Várias comunidades nos pedem ajuda para criarem seus bancos. Mas para este ano só temos recursos de R$ 3 milhões para aplicar em toda a região Sudeste", explica.
Uma nova história de vida
Nos bairros onde a moeda própria circula, uma nova realidade pode ser vista. A criminalidade e a miséria têm dado lugar para a solidariedade e para o desenvolvimento social.
Em São Benedito, por meio da moeda bem e do microcrédito, 700 famílias foram atendidas.
Além dos projetos de moda, gastronomia e construção, desenvolvidos pelo Ateliê de Ideias, associação gestora do banco, a comunidade vai ganhar um Núcleo de Áudio Visual. Vinte jovens das comunidades serão capacitados para se tornarem radialistas e diagramadores de jornais.
No bairro, um sistema de capitalização, semelhante ao oferecido pelos bancos tradicionais, pode ser adquirido pelos moradores. "A pessoa paga R$ 1 e concorre a 25 bens todo o mês", conta Leonora.
No bairro Vista Dourada, em Cariacica, o Banco Sol e o Associação Costumes Artes, conseguiu atender 80 famílias com o crédito solidário, da moeda sol. Entre os trabalhos desenvolvidos na comunidade, segundo a agente de crédito Normeliana Santos, estão o artesanato de fibra de banana e a produção de sacolas ecológicas.
Eles sonham em abrir empregosO trabalho pesado na Bloco Terra não para. Com o Creditar, a fábrica, que fica em Terra Vermelha, vai consertar o equipamento para aumentar a produção de 400 para mil blocos por dia. A empresa vende tudo o que produz para moradores e comércio do bairro. Cada bloco custa R$ 0,90, 25% mais barato que no mercado tradicional. O lucro médio é de R$ 500 por mês para cada um dos cinco sócios. "Deixamos de vender por não ter estoque. No futuro, queremos uma máquina semiprofissional e empregar mais gente", diz José Pedro Pascoal, sócio junto com Alessandra e Alfredo Santana no negócio. A Terra Bloco iniciou em novembro de 2010 com financiamento do Banco Terra. A instituição financeira, segundo o agente de crédito Itamarcos Coutinho, já liberou 78 créditos. "Estamos até sem recurso para atender à intensa procura".
Fonte: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/07/noticias/a_gazeta/economia/919864-bancos-do-bem-uma-moeda-de-oportunidades.html
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